sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

O fator Michelle Bolsonaro: a aposta que irrita os filhos do ex-presidente

Júnior Silva

Júnior Silva

Publicado em: 03/12/25 – 19:07

O fator Michelle Bolsonaro: a aposta que irrita os filhos do ex-presidente

Júnior Silva

Júnior Silva

Publicado em: 03/12/2025
19:07

A chegada da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro a Fortaleza, no domingo (30/11), revelou a intenção de barrar uma possível aliança do PL com o agora tucano Ciro Gomes na disputa pelo governo do Ceará, contra o atual governador Elmano de Freitas (PT). A BBC News Brasil acompanhou o evento, onde a surpresa ficou por conta de ataques diretos de Michelle a dirigentes do próprio partido — entre eles o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, e o presidente estadual, deputado André Fernandes. A postura desencadeou uma crise interna com os filhos de Jair Bolsonaro e a cúpula da legenda.

Michelle foi ao Ceará para apoiar a pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo), seu aliado e defensor de pautas conservadoras, incluindo a oposição ao aborto. O evento ocorreu oito dias após Jair Bolsonaro ser levado à cela da Polícia Federal. Recebida como estrela, a ex-primeira-dama se posicionou como porta-voz do marido, sentando à frente de um totem com a imagem dele e a frase “FALEM POR MIM”.

Ao discursar, Michelle criticou Valdemar da Costa Neto e exaltou sua posição como presidente do PL Mulher — movimento que, desde março de 2023, conquistou 51 mil novas filiadas, crescimento de 15%, seis vezes acima dos demais partidos no período.

“Se o meu presidente apoia outro candidato, ele não fala por mim. Eu sou presidente do PL Mulher, tenho autonomia”, afirmou.

Ela também lembrou ataques de Ciro Gomes a Bolsonaro, incluindo celebrações pela decisão do TSE que tornou o ex-presidente inelegível. Em seguida, dirigiu críticas ao deputado André Fernandes, que negociava com Ciro uma aliança com aval de Bolsonaro, segundo o senador Flávio Bolsonaro — algo que Michelle nega ter conhecimento.

Apesar de defender a aliança, Fernandes esteve no evento de Girão. Michelle, no entanto, não escondeu o desconforto e chegou a convocar o deputado para uma foto de apoio ao senador, gesto interpretado internamente como um constrangimento público.

Discurso religioso e apelo ao eleitorado feminino

Durante sua fala, Michelle reforçou o protagonismo das mulheres e citou trechos bíblicos:
“Somos a força delicada que vai transformar o mundo. Deus nos deu o dom de gerar, educar e direcionar.”

“No dia seguinte”, Flávio Bolsonaro classificou a atuação dela como “autoritária e constrangedora”. A tensão aumentou quando o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos criticou as viagens de Michelle, insinuando distanciamento da prisão do marido. Michelle respondeu nas redes afirmando agir sempre validada por Jair Bolsonaro.

Tentativa de trégua e suspensão da aliança com Ciro

Na terça-feira (2/12), após visitar o pai, Flávio afirmou ter feito uma “troca de desculpas” com Michelle. O PL anunciou uma reunião para alinhar decisões internas, e a possível aliança com Ciro foi suspensa. Michelle publicou fotos ao lado de dirigentes e da família com a mensagem: “Com oração, conversa sincera e união, o Brasil tem solução!”.

Nos bastidores, porém, integrantes do PL avaliam que o episódio enfraqueceu a possibilidade de Michelle integrar uma chapa presidencial em 2026, como ventilado anteriormente, inclusive como possível vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Crescimento político e conflito com a família Bolsonaro

Apesar das críticas, aliados destacam o crescente protagonismo de Michelle, que se tornou figura central entre o público conservador feminino e religioso. O cientista político Creomar de Souza observa que o comando do PL Mulher, somado a sua atuação nacional, dificulta qualquer tentativa de “enquadramento”.

A ex-primeira-dama tem influenciado diretamente a escolha de pré-candidatas ao Senado em 2026 — eleição estratégica para o bolsonarismo, já que os senadores podem votar cassações no STF. Suas escolhas, porém, entram em choque com interesses da família Bolsonaro e de dirigentes do PL.

Disputas pelo Senado em vários Estados

Em Santa Catarina, a preferência de Michelle pela deputada Carolina de Toni se contrapõe ao projeto de Carlos Bolsonaro, que pretende concorrer ao Senado pelo Estado. No Distrito Federal, Michelle surpreendeu ao apoiar Bia Kicis, apesar de ser ela própria cotada para disputar a vaga — pesquisas indicam vantagem significativa.

No Ceará, o embate também envolve o Senado. A aliança com Ciro Gomes beneficiaria o plano de André Fernandes de lançar seu pai, Alcides Fernandes, enquanto Michelle apoia Priscila Costa, vice-presidente do PL Mulher e vereadora mais votada de Fortaleza.

Em São Paulo, Michelle apoia a deputada Rosana Valle, mas outros nomes da direita, como Ricardo Salles e Guilherme Derrite, também surgem como possíveis candidatos.

Pesquisa mostra cenário acirrado para 2026

Pesquisa AtlasIntel/Bloomberg apontou Michelle e Tarcísio empatados tecnicamente com Lula em um eventual segundo turno — 49% a 47% para o presidente.

A disputa interna pela liderança da direita permanece aberta, com Michelle Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Flávio Bolsonaro, Romeu Zema e Ronaldo Caiado entre os cotados.



Fonte: BBC News Brasil

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